Amigdalectomia: Eficácia Duvidosa e Indicação Arbitrária?
A amigdalectomia pode causar danos, desde hemorragia, fratura de côndilo da mandíbula, paralisia do glossofaríngeo até aumento de incidência de Infarto Agudo do Miocárdio. Revisões da Cochrane demonstraram falta de evidência científica nas indicações de Amigdalectomia. Pesquisas científicas revelam altas variações de incidência de amigdalectomia entre as regiões, demonstrando tomadas de decisões arbitrárias, falta de rigor científico e até vieses de cunho econômico (a amigdalectomia é mais comum em crianças de classe alta – o triplo em comparação com os pobres). A homeopatia tem como tradição a possibilidade de resolução de quadros de amigdalites de repetição e melhora da hipertrofia de tecidos de vias aéreas superiores podendo ser resolutiva em casos de Síndrome de Apneia Obstrutiva do Sono – SAOS e Obstruções de Fluxo Aéreos, com evidencia científica publicada em 2017 pela UNIFESP de que a Homeopatia reduz em 78% a indicação da retirada cirúrgica das amígdalas.
No dia 01 de junho de 2011 foi publicado no European Heart Journal um estudo demonstrando que a remoção do apêndice e amígdalas aumentam risco de ataque cardíaco:
Este estudo realizado na Suécia demonstrou que as chances de Infarto Agudo do Miocárdio podem aumentar em até 44% (hazard ratio de 1,44) após a amigdalectomia e 33% (hazard ratio de 1,33) após a apendicectomia – sendo ainda maior quando ambas as operações são realizadas na mesma pessoa.
“Dada as fortes evidências biológicas e epidemiológicas interligando a inflamação com a doença cardíaca coronária, pode-se antecipar que a remoção cirúrgica de amígdalas e apêndice, com os seu consequentes efeitos sobre a imunidade, também pode ter um efeito de longo prazo sobre a doença coronariana”, diz Imre Janszky, pesquisador do Departamento de Saúde Pública do Instituto Karolisnka, em Estocolmo.
O estudo publicado no European Heart Journal analisou os registros nacionais de saúde de cada cidadão sueco nascido entre 1955 e 1970, identificando quem teve amígdalas ou apêndice removido. Estes indivíduos foram então acompanhados durante uma média de 23,5 anos para a verificação cruzada de ataques cardíacos fatais e não fatais (infarto agudo do miocárdio).
Os resultados mostraram que os pacientes submetidos a Amigdalectomia ou Apendicectomia tiveram maior prevalência de infarto agudo do miocárdio do que os casos de controle. A explicação para os dados pode estar no fato de que a retirada dos órgãos linfoides secundários afeta vários aspectos da atividade imunológica – incluindo a diminuição de imunoglobulinas. O estudo evidencia que a remoção, com efeitos a longo prazo, incide no sistema imunológico e altera o risco para algumas doenças autoimunes.
“Já há algumas evidências de que a remoção do baço e outros órgãos linfóides secundários, também estão associados com aterosclerose acelerada e aumento do risco cardiovascular”, conclui Janszky.
No dia 19 de novembro de 2014, a Cochrane publicou o estudo demonstrando que Amigdalectomias realizadas para infecções de repetição e obstrução de vias aéreas carecem de fundamento científico:
“O impacto da cirurgia, como demonstrado nos estudos incluídos, é modesto. Muitos participantes no grupo não-cirúrgico melhoram espontaneamente. O potencial “benefício” da cirurgia deve ser ponderado contra os riscos do procedimento, uma vez que a adeno-tonsilectomia está associada a um pequeno mas significativo grau de morbidade na forma de hemorragia primária e secundária e, mesmo com boa analgesia, é particularmente desconfortável para Adultos” Cochrane
“A remoção cirúrgica das amígdalas, com ou sem adenoidectomia, é uma operação ORL comum, mas as indicações para a cirurgia são controversas. Dois estudos em crianças relataram que não houve “diferença estatisticamente significativa” nos resultados de qualidade de vida.” Cochrane
Em 14 de outubro de 2015 a Cochrane publicou que adenotonsilectomia para Respiração Obstrutiva do Sono também carece de fundamento científico:
“Não é possível apresentar dados sobre os benefícios da adenotonsilectomia em crianças com Respiração Obstrutiva do Sono com idade inferior a cinco anos, apesar de ser uma população em que este procedimento é frequentemente realizado para este fim.” Cochrane
“Para as crianças não-sindrômicas classificadas como tendo Respiração Obstrutiva do Sono por motivos puramente clínicos, mas com polissonografias negativas, as evidências sobre os efeitos da adenoamigdalectomia são de baixa qualidade e não são conclusivas”. Cochrane
“As revisões de Polissonografias de quase metade das crianças manejadas não cirurgicamente tinham normalizado em sete meses, indicando que os médicos e os pais devem pesar cuidadosamente os benefícios e riscos de adenotonsilectomia contra a espera vigilante nestas crianças. Esta é uma condição que pode se recuperar espontaneamente ao longo do tempo.” Cochrane
As Amígdalas ou tonsilas palatinas, estão localizadas no fundo da boca e protegem a entrada para o sistema respiratório e o sistema digestório, pois fazem parte de um anel de tecido linfóide, que facilita a rápida resposta dos linfócitos aos germes.
Chama-se amigdalectomia ou tonsilectomia a remoção cirúrgica das amígdalas ou tonsilas. A adenoidectomia é a remoção das adenoides.
A história da remoção terapêutica é antiga, mas não era comum até o início do século XIX, com a invenção de uma guilhotina que permitiu a remoção rápida e parcial.
A técnica foi aperfeiçoada com a dissecção e remoção completa das amígdalas e se espalhou como uma ação preventiva para evitar infecções repetidas (amigdalite de repetição), febre reumática, otites e outras complicações, em uma época sem antibióticos e com condições deploráveis de assistência médica, educação, higiene, moradia, vestuário e alimentos.
No início do século XX, a amigdalectomia era um procedimento muito popular. Com o aumento e a variabilidade na incidência das amigdalectomias, em 1938 a a Seção de Epidemiologia da Royal Society of Medicine Decidiu estudar as variações geográficas, o estudo foi conduzido por James Glover, Médico Britânico:
Os dados sobre amigdalectomias na Inglaterra e país de Gales demonstraram variações de até 17 vezes (taxas anuais de 0,3% em comparação com taxas de 5,1%), sugerindo uma tomada de decisão arbitrária e sem fundamento científico.
Quando foram encontradas mudanças bruscas nas taxas de amigdalectomias, associaram o fato às mudanças de médicos escolares, Por exemplo, entre 1929 e 1936, Dr. Garrow reduziu a um décimo as amigdalectomias em sua área, de 186 (2,9% das crianças) para 13 (o,2%), sem aumento concomitante de doença alguma (adenite, otite, amigdalite) ou do absenteísmo escolar.
A amigdalectomia era mais comum em crianças de classe alta (o triplo em comparação com os pobres). Não ocorreram alterações atribuíveis a outras variáveis analisadas (clima, ruralidade, aglomerações, saúde dental, desemprego, doença, entre outras). Foi demonstrado que distritos geográficos adjacentes muito semelhantes tinham taxas muito diferentes.
A cada ano morriam cerca de 85 crianças com menos de 15 anos como consequência direta e imediata da hemorragia na cirurgia. Nos cinco anos estudados (1931-1935), morreram 434 crianças nessas circunstâncias.
Nos EUA, também existia a preocupação a respeito das amigdalectomias, mas no sentido oposto, de subutilização. A American Child Health Association realizou um estudo publicado em 1934, conhecido como de “porcentagem fixa”. Foi solicitado a médicos especialistas decidir sobre a necessidade de amigdalectomias em crianças. Iniciou-se com mil crianças selecionadas aleatoriamente, nas quais verificou-se que 60% já haviam sido submetidas à amigdalectomia. Após análise das crianças remanescentes, um primeiro médico estimou que 40% mereciam cirurgia. Outro médico examinou as que não tinham sido recomendadas para cirurgia e sugeriu amigdalectomia em 40% dos casos. Na terceira rodada, o conselho de outro médico também foi operar 40%. No final, restaram 65 crianças com amígdalas e sem recomendação de remoção. Este estudo mudou a percepção de seus proponentes, que questionaram os critérios para decidir a cirurgia.
Dr. John Wennberg, médico ilustre do final do Século XX, publicou no Lancet em 2014, uma análise do trabalho do Dr. Glover, tentando entender a lógica na variabilidade da prática médica na amigdalectomia:
“Não é surpreendente que a variação regional na cirurgia – e sua implicação de que muitos pacientes estão recebendo procedimentos que eles não querem ou precisam“
Dr. Juan Gérvas, Médico e pesquisador Espanhol, escreveu em seu livro “São e Salvo” de 2016:
“Na Espanha há os dados de 2006 do Atlas de variações na Prática Médica, liderado pelo Dr. Enrique Bernal. Ele demonstra que seu uso era popular pois a adenoidectomia foi a operação mais comum em crianças, seguida da tonsilectomia. Como todas as intervenções de eficácia duvidosa e indicação arbitrária, a tonsilectomia apresenta uma enorme variabilidade na Espanha, de até 13 vezes quando se comparam áreas de saúde, com taxas entre 3 e 39 por 10 mil crianças menores de 15 anos. No Brasil, existem dados de 2014, ano em que 40 mil tonsilectomias foram realizadas (mais da metade na região sudeste do país, a mais rica).” Dr. Juan Gérvas
Segundo Dr. Juan Gérvas, a Febre Reumática, que é também uma das justificativas dos médicos para realizar a amigdalectomia, quase desapareceu dos países desenvolvidos, pois é uma doença da pobreza que se combate com melhorias da higiene, habitação, vestuário e nutrição.
A Febre Reumática é uma doença autoimune causada por uma reação anormal do sistema imunológico contra os estreptococos beta-hemolítico do grupo A que infectam as tonsilas, a pele e outras partes.
“A Febre Reumática é agora uma raridade e a Obstrução das Vias Respiratórias, aparentemente uma epidemia. A tonsilectomia volta com força e com o brilho da tecnologia. Superamos a”teoria infecciosa” que a justificava, para estabelecer uma “teoria mecânica” que a promove. Vamos passar de “a criança está roncando como um abençoado” para “essa criança ronca, tem que operá-la”. O dormir das crianças e adolescentes tem sido medicalizado, e uma variação da normalidade é aplicada, de maneira cruel e desnecessária, como uma tecnologia da modernidade. No século XXI, será difícil que as crianças conservem suas tonsilas.” Dr. Juan Gérvas.
Além da irracionalidade, há danos. A mortalidade por tonsilectomia é de 1 em 15.000. A morbidade é muito frequente, por exemplo, quase 90% das crianças e adolescentes têm náuseas e vômitos, pode também haver febre, hemorragias, obstrução das vias respiratórias, edema uvular, fratura de côndilo da mandíbula, paralisia do glossofaríngeo, desidratação, pneumonia e outras complicações.
Homeopatia e Amígdalas
Em julho de 2017, o departamento de Otorrino da UNIFESP/EPM, publicou um Estudo clínico, duplo-cego, randomizado, em crianças com amigdalites recorrentes:
Nesta publicação científica, que buscou avaliar a eficácia e segurança do tratamento homeopático em crianças com amigdalite recorrente que tinham indicação cirúrgica, o resultado foi estatisticamente significativo (p=0,015), concluindo que o tratamento homeopático foi eficaz nas crianças com amigdalites recorrentes, quando comparado ao placebo, excluindo 78% das crianças da indicação cirúrgica. O medicamento homeopático não provocou eventos adversos nas crianças.
Amígdalas: órgão linfóide, função de defesa do organismo
Como foi evidenciado, as amígdalas são um órgão linfóide, fazem parte do sistema de defesa do organismo, por isso se situam na porta de entrada da orofaringe, para nos proteger contra os microorganismos invasores.
Se a criança está apresentando amigdalite de repetição, a amígdala esta exercendo muito bem sua função, que é de proteger o organismo. O problema não está na amígdala, mas sim na imunidade do organismo que está enfraquecida e fazendo com que a amígdala tenha que exercer com mais frequência o seu papel na defesa do organismo.
Portanto, como demonstrado, extirpar ou mutilar as amígdalas não vai fazer com que a imunidade de seu filho melhore, muito pelo contrário, com esta intervenção de amigdalectomia, o organismo pode ficar ainda mais debilitado pela perda de uma de suas principais defesas, que é a amígdala, e apenas deslocar o problema de um local não vital (amígdalas), para outro como faringite de repetição, sinusite de repetição ou até mesmo para um órgão vital como o coração, aumentando a incidência de Infarto Agudo do Miocárdio (conforme demonstrado pelo artigo do Dr. Imre Janszky).
Ou seja, após a amigdalectomia, seu filho não terá obviamente mais infecções das amígdalas, mas isso não significa que ele esteja curado ou que terá assim mais saúde, mas na verdade, a saúde global do organismo poderá estar prejudicada.
Dr. Pedro Ozi defende que as infecções estimulam respostas organizadas, reguladas contra antígenos estranhos através dos PAMP, fornecem imunidade protetora, eliminação de antígeno, com reações eficientes e exonerativas com retorno à homeostase.
Já as outras doenças como alergia, autoimune, câncer, e distúrbios emocionais, estimulariam respostas desorganizadas, desreguladas, sobre a qual o organismo não consegue estabelecer retorno à homeostase de maneira natural, gerando doenças crônicas.
Portanto, realizar amigdalectomia pode predispor o organismo a deslocar seu adoecimento do polo organizado (infecções – doenças agudas que possuem começo, meio e fim) para o polo desorganizado (alergias, doenças autoimune, doenças crônicas em geral), podendo gerar prejuízos e danos ao organismo.
A homeopatia, que é uma prática médica centrada na pessoa, propõe soluções eticamente aceitáveis, atua fazendo o organismo caminhar em direção à cura e com retorno ao equilíbrio e homeostase, há mais de 200 anos defende o paciente frente às intervenções médicas desnecessárias, que muitas vezes trazem mais dano do que benefício. A homeopatia tem como tradição a eficácia em resolução de quadros de amigdalites de repetição e melhora da hipertrofia de tecidos de vias aéreas superiores, sendo também resolutiva em casos de Síndrome de Apneia Obstrutiva do Sono – SAOS e Obstruções do Fluxo Aéreos.
Como diz o Prof. Juan Gérvas:
Convém precaução contra o canto da sereia da prevenção, pois nem tudo o que reluz é ouro.
Proteja seu filho contra possíveis intervenções médicas desnecessárias e, parafraseando Dr. Juan Gérvas: “de eficácia duvidosa e indicação arbitrária”. Consulte seu médico de confiança e, se necessário, solicite uma segunda opinião com outro profissional médico bem treinado, reflita sempre e colete o máximo de informações confiáveis antes de submeter seu filho a procedimentos intervencionistas que possam causar danos.
Autor: Prof. Dr. Lucas Franco Pacheco, Médico com título de especialista em Homeopatia pela AMHB-AMB.
site: www.doutorlucashomeopatia.com.br
3 comments
Excelente Artigo. Muito esclarecedor! Sofri tal mutilação e agi diferente para com os meus filhos. Busquei meios alternativos para curar as amigdalites deles. Sei que a cirurgia é a última opção que devemos recorrer. Sucesso!
Ola! Estou tentando homeopatia, mas minha filha ronca demais e tem 70% de obstrução respiratória por hipertrofia da adenoide e amidalas. Estou resistindo a remoção, mas aflita ha tres anos!
PARABÉNS Dr. Lucas Pacheco pelo excelente artigo fundamentado na Saúde Baseada em Evidências. Eu não sou adepta a amigdalectomia em crianças… Acho um procedimento muito evasivo. Sou a favor da Medicina Alternativa com a adoção à Homeopatia.