Posse Academia Amparense de Letras
Discurso do Dr. Lucas Franco Pacheco na Posse da cadeira número 36 da Academia Amparense de Letras
Excelentíssimos membros da Academia Amparense de Letras, autoridades presentes, queridos familiares, amigos e convidados,
É com grande honra e emoção que me dirijo a todos vocês neste momento singular, marcado pela minha posse como membro desta respeitável Academia. Antes de mais nada, permitam-me expressar minha profunda gratidão a Deus por esta oportunidade e por guiar os passos que me trouxeram até aqui.
Quero iniciar este discurso expressando minha eterna gratidão à minha família, alicerce inabalável que sustentou cada passo da minha jornada literária. Nasci em Pouso Alegre, sul de Minas Gerais, em um ambiente peculiar, cercado pela dualidade de profissões e paixões dos meus pais. Minha mãe, uma dentista homeopata e da biocibernética bucal, dedicada, moldou minha infância dentro dos conhecimentos da Antroposofia de uma maneira única. Cresci sem a necessidade de antibióticos ou corticoides, pois ela encontrava soluções para todas as minhas questões de saúde na homeopatia e as respostas para meus marcos do desenvolvimento dentro do estudo biográfico Antroposófico.
Enquanto minha mãe cuidava do meu bem-estar físico, meu pai, vegetariano desde os 18 anos. contribuía para o meu desenvolvimento de maneira igualmente marcante: em toda minha vida nunca comi carne. Ele é um músico talentoso e um professor dedicado, tendo obtido seu mestrado na renomada PUC-SP. Além disso, seu espírito competitivo o levou a se tornar campeão brasileiro de canoagem, demonstrando uma determinação que mais tarde se tornaria uma inspiração para mim.
Essa trajetória única moldou não apenas minha formação acadêmica, mas também minha perspectiva de mundo. A influência da Homeopatia, biocibernética e Antroposofia vindos da minha mãe, e da harmonia da música, alimentação vegetariana e a determinação atlética do meu pai moldaram minha abordagem à vida e à saúde, para manter o corpo e a mente saudáveis. Agora, estou determinado a seguir os passos de meus pais, buscando a excelência na medicina, inspirado pela combinação única de saberes que permearam minha jornada até aqui.
À minha querida esposa Aline e meus 3 filhos: Alice, Letícia e Francisco, que sempre me apoiaram, incentivaram e, acima de tudo, compreenderam a paixão que tenho pelos estudos. Cada conquista minha é, em grande parte, fruto do amor, compreensão e apoio incondicional que vocês sempre me proporcionaram. Sem vocês, meus amados, esta jornada não seria tão significativa. Agradeço do fundo do meu coração.
Ao assumir minha cadeira nesta Academia, sinto-me imbuído de uma responsabilidade imensa. Uma responsabilidade para com a cultura, a língua e a literatura que nos unem. A Academia Amparense de Letras é um farol de sabedoria, um espaço que resplandece o brilho das palavras, e assumo o compromisso solene de contribuir para a preservação e enriquecimento desse legado cultural.
Meus colegas acadêmicos, compartilhamos a missão de promover a literatura, a língua e as artes em nossa comunidade. Pretendo dedicar-me arduamente para, juntos, explorarmos novos horizontes literários, incentivarmos jovens talentos, e ampliarmos o alcance de nossas ações culturais. Proponho a criação de programas que fomentem a leitura nas escolas, a realização de eventos literários que envolvam a comunidade e a busca constante por parcerias que fortaleçam nossos laços com outras instituições culturais.
Além disso, vislumbro a criação de um prêmio literário anual que reconheça e celebre os talentos locais, incentivando a produção literária em nossa região. Com a participação ativa de todos os membros, podemos transformar a Academia Amparense de Letras em um celeiro de ideias, palavras e inspiração.
Assumo este compromisso com humildade, ciente de que cada membro desta Academia é uma peça fundamental no intricado mosaico que é a cultura. Unidos, seremos capazes de fortalecer nossos laços com a comunidade, disseminar o amor pela literatura e, acima de tudo, preservar e enaltecer a riqueza de nossa língua.
Agradeço especialmente ao acadêmico Dr. José Tadeu de Campos Nóbrega, meu paraninfo, a confiança depositada em mim e reitero meu compromisso de honrar o legado da Academia Amparense de Letras, contribuindo para seu constante crescimento e brilho.
Minha jornada acadêmica teve início em uma escola construtivista em Pouso Alegre, um ambiente educacional único que valorizava a aprendizagem ativa e a construção do conhecimento de forma mais livre e participativa. Nessa fase inicial da minha educação, não havia o tradicional sistema de provas, e o foco estava na compreensão profunda dos conceitos, estimulando a criatividade e o pensamento crítico desde cedo.
Entretanto, a mudança de cenário se apresentou quando ingressei em uma escola da rede anglo, conhecida por sua abordagem mais conteudista e competitiva. Essa transição representou não apenas uma mudança de metodologia, mas também uma adaptação ao ambiente de ensino que valorizava a avaliação por meio de exames e a assimilação eficiente de conteúdo.
Em busca do meu sonho de ingressar em uma universidade federal de medicina, decidi dar um passo além e me envolver em cursinhos preparatórios em São Paulo e Juiz de Fora.
Minha jornada na busca do conhecimento médico teve seu prólogo quando adentrei os portões imponentes da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Ali, nas salas de aula impregnadas de sabedoria, iniciei a trilha que me levaria a explorar os mistérios do corpo humano.
Ao longo dos anos, minha trajetória acadêmica se entrelaçou com as páginas imortais da ciência. Desbravei fronteiras do saber, fui bolsista de pesquisa, monitoria e extensão universitária, culminando em publicações científicas em revistas científicas indexadas. Cada palavra, um fio que se entrelaça ao tecido do entendimento, forjando um caminho no intricado labirinto do conhecimento médico.
Minha trajetória acadêmica na faculdade de medicina abriu portas para uma experiência única e enriquecedora. Durante o internato médico, fui agraciado ao ser selecionado para um estágio em clínica médica na prestigiada Universidade de Torino, na Itália. Essa oportunidade não apenas ampliou meus horizontes, mas também proporcionou um ambiente de aprendizado excepcionalmente rico.
Ao desembarcar em Torino, mergulhei em um cenário médico internacional, imerso em uma cultura acadêmica e clínica diferente daquela a que estava habituado. Sob a orientação de profissionais renomados, pude vivenciar de perto a prática médica em um contexto europeu, contribuindo significativamente para o meu desenvolvimento profissional.
O intercâmbio acadêmico não se limitou apenas à troca de conhecimento clínico. A convivência com colegas de diferentes nacionalidades proporcionou uma compreensão mais ampla das diversas abordagens médicas existentes ao redor do mundo. Essa experiência multicultural expandiu minha visão sobre os desafios e as soluções na área da saúde em escala global.
Ainda durante minha jornada na graduação em medicina, tive o privilégio de alcançar mais uma conquista significativa ao ser selecionado para um estágio em Medicina de Família na prestigiada Universidade de São Paulo. Essa oportunidade não apenas complementou minha formação acadêmica, mas também ampliou minha compreensão sobre a importância crucial da atenção primária à saúde.
O estágio em Medicina de Família na USP representou uma imersão profunda na prática médica centrada no paciente e na abordagem holística da saúde. Sob a orientação de profissionais experientes e engajados, pude vivenciar o papel essencial desempenhado pelos médicos de família na promoção da saúde e na prevenção de doenças.
Após completar minha graduação em medicina, decidi aprofundar-me ainda mais no campo da saúde ao ingressar em um curso de especialização em homeopatia em São Paulo. Essa decisão foi motivada pela minha experiência única, tendo crescido em um ambiente onde a homeopatia desempenhou um papel crucial em minha saúde e bem-estar.
Em seguida, decidi submeter-me à prova nacional de título de especialista em homeopatia. A experiência na prova de título de especialista em homeopatia foi intensa e exigente. Contudo, ao receber o resultado, fui agraciado com uma notícia que superou minhas expectativas: fui aprovado em primeiro lugar, tendo gabaritado todas as etapas do exame. Essa conquista apenas validou meu comprometimento com a homeopatia solidificou meu lugar nessa prática médica tão única e valiosa.
A partir desse momento, sinto-me honrado em contribuir para a disseminação e aprimoramento da homeopatia no cenário médico brasileiro. Essa jornada de especialização e aprovação destacada na prova de título não apenas enriqueceu minha carreira profissional, mas também reforçou minha dedicação ao cuidado holístico e personalizado dos pacientes, seguindo os princípios que me foram transmitidos desde minha infância.
O capítulo que escrevi no livro “Medicina Integrativa na Prática Clínica” da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo foi mais que uma contribuição; foi a manifestação de um compromisso com a abordagem holística e individualizada, onde cada paciente é mais que um corpo a ser tratado, mas uma história a ser compreendida.
Em parceria com colegas médicos homeopatas de todo Brasil, dei vida a um livro de casos clínicos em homeopatia, onde a arte de curar se entrelaça com a ciência. Uma sinfonia de experiências médicas, onde o cuidado individualizado encontra espaço para florescer.
A caneta da minha paixão pela escrita não se deteve aí. Fui arquiteto das palavras no primeiro livro sobre febre em língua portuguesa, desvelando os segredos dessa manifestação muitas vezes misteriosa. Cada página, um convite ao entendimento profundo, um convite à luz do saber que dissipa as sombras da incerteza.
Em 2013, fui alçado à docência universitária, onde as mentes jovens buscam respostas para suas indagações. Me tornei um farol, guiando mentes sedentas de conhecimento através dos meandros da medicina. E como coordenador de pós-graduação em homeopatia, desvendei novos horizontes para aqueles que almejam aprofundar-se na arte sutil da cura.
Meu caminho guiou-me para o papel de diretor na Associação Paulista de Homeopatia, onde as sementes da cura são cultivadas com o carinho da experiência e o zelo pela tradição terapêutica, onde tracei rotas pelo vasto oceano do conhecimento homeopático, navegando pelas correntes da inovação e do respeito às raízes ancestrais da medicina.
E como se a poesia da vida insistisse em tecer seus versos em minha jornada, ergui-me como o primeiro presidente da Associação Médica Homeopática Brasileira Jovem, alçando voos rumo ao futuro promissor da medicina integrativa em nível nacional. Nessa posição, fui o arauto de uma visão vibrante, onde a juventude médica é catalisadora de transformações que ecoam para além dos horizontes da prática clínica.
Contemplando o horizonte mais amplo da saúde integrativa, fui convidado a tornar-me membro do Comitê de Homeopatia do Consórcio Acadêmico Brasileiro de Saúde Integrativa (CABSIN), uma aliança que se estende para além das fronteiras acadêmicas, unindo esforços em prol da pesquisa em saúde integrativa baseada em evidências. No seio desse consórcio, encontrei um terreno fértil para semear a colheita do conhecimento, cultivando raízes que se entrelaçam com as diretrizes do Ministério da Saúde, da Organização Pan-Americana da Saúde e da Organização Mundial da Saúde.
Fui convidado também ao posto de Diretor Científico da Associação Paulista de Medicina Regional Amparo, eleito este ano pela segunda gestão consecutiva, ao lado do meu paraninfo Dr. José Tadeu de Campos Nóbrega, a quem novamente externo aqui minha gratidão.
A influência marcante da antroposofia em minha vida desde a infância despertou em mim o desejo profundo de compreender e aplicar essa abordagem holística na prática médica. Em 2018, Buscando aprimorar meus conhecimentos, decidi realizar especializações em Medicina Antroposófica.
A primeira etapa desse comprometimento foi uma especialização de medicina Antroposófica em Juiz de Fora. Sob a orientação de especialistas renomados nessa área, explorei a integração entre os aspectos físicos, emocionais e espirituais da saúde, uma abordagem única que sempre fez parte do meu percurso de cuidados desde a infância.
Em seguida, busquei expandir ainda mais meu conhecimento e habilidades ao embarcar em outra especialização, dessa vez em São Paulo, onde tive a oportunidade de mergulhar ainda mais fundo nos conceitos antroposóficos aplicados à medicina, na Associação Brasileira de Medicina Antroposófica – ABMA, enriquecendo meu repertório clínico e minha compreensão das terapias complementares que essa abordagem oferece.
Em Amparo, esta cidade acolhedora em que resido desde 2015, tive a oportunidade de ser o fundador, junto com meu amigo Raoni, da Escola Waldorf Flor da Montanha, inspirada na pedagogia visionária de Rudolf Steiner. O ano de 2017 marcou o início dessa jornada educacional, que se revelou como um terreno fértil para cultivar conhecimento, criatividade e uma abordagem única ao aprendizado.
A Escola Waldorf Flor da Montanha nasceu da aspiração de oferecer uma educação que respeitasse a individualidade de cada criança e que valorizasse a integração de aspectos emocionais, sociais e intelectuais no processo de ensino-aprendizagem. Inspirados pela pedagogia de Rudolf Steiner, buscamos criar um ambiente educacional que nutrisse o crescimento integral dos alunos, promovendo a curiosidade, a imaginação e a responsabilidade social.
Ao longo dos anos, testemunhamos o florescimento de uma comunidade escolar vibrante, onde educadores, pais e alunos formaram uma rede de apoio dedicada ao desenvolvimento pleno de cada criança. A Escola Waldorf Flor da Montanha não era apenas um local de aprendizado; era um espaço onde os laços afetivos e a busca por um entendimento mais profundo da vida se entrelaçavam.
Infelizmente, como tantas outras instituições, nossa escola enfrentou desafios inesperados com a chegada da pandemia. O fechamento das portas foi uma decisão difícil, mas foi também um ato de responsabilidade diante das circunstâncias. Contudo, mesmo diante das dificuldades, podemos afirmar que a Escola Waldorf Flor da Montanha foi muito mais do que um lugar físico; foi uma comunidade que deixou uma marca indelével em todos os que dela fizeram parte.
O encerramento da escola não apaga as memórias de alegrias compartilhadas, dos sorrisos das crianças e do compromisso coletivo com uma educação diferenciada. O legado da Escola Waldorf Flor da Montanha permanecerá vivo nas experiências enriquecedoras que proporcionamos, nos laços que foram estabelecidos e no aprendizado mútuo que floresceu em nosso meio.
Assim, minha trajetória continua a desdobrar-se, uma sinfonia de compromissos, uma coreografia de responsabilidades, onde cada passo é um aceno à construção de um amanhã mais saudável e pleno de conhecimento. Que os capítulos que ainda virão sejam tão ricos quanto os já escritos, e que a poesia da medicina integrativa continue a inspirar o coração da cura.
Que as páginas da minha jornada permaneçam abertas à beleza eterna do aprendizado constante.
Muito obrigado a todos. Que a literatura continue a ser a luz que guia nossos caminhos.
Muito obrigado.
Dr. Lucas Franco Pacheco